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Mau grado a importância que parecem ter como achado arqueológico, as figuras rupestres de Vila Nova de Foz Côa não me entusiasmam, e desagrada-me a multidão que se desloca a vê-las. Mas supunhamos que, convencido pelo colorido e a linguagem dos folhetos turísticos, você as foi ver e, tal como eu, esperava outra coisa e outro público. Venha então partilhar uma descoberta.
Volte a Vila Nova de Foz Côa e meta em direcção ao Pocinho. Atente pouco depois no cruzamento que, à esquerda, leva às aldeias de Santo Amaro e Mós.
Aquilo é mais caminho que estrada, mal cabem nele dois carros, mas a probabilidade de cruzar com outro é reduzida.
No próximo cruzamento vire à esquerda para Santo Amaro. Percorrem-se dois e pico quilómetros, a estrada estreita-se e só dá passagem a um carro. Há agora que atentar numa tabuleta que se acha à esquerda, mas cuja letreiro só é visível para quem vem da direcção oposta. Nela lê-se a inscrição "Castelo Velho".
Meta pelo caminho empedrado. Uma centena de metros adiante encontrará, não um castelo, mas as escavações ainda em curso de uma construção que se supõe seja da Idade do Cobre. Os arqueólogos que lá trabalham de boa vontade explicam o que já acharam e o que esperam achar.
Volte à estrada e continue para a esquerda, seguindo a direcção de Prazo. Aí estão as interessantes ruínas de uma villa rustica romana, que provavelmente data do século I.
Outra villa rustica, esta de menores dimensões, vê-se no lugar de Rumansil, que encontrará no caminho para o miradouro de São Martinho, com belas vistas sobre o vale do Douro . Não perca a oportunidade de ir até lá, pois compensa do mau caminho.
Retorne a Freixo de Numão e visite o Museu da Casa Grande. Antes ou depois ofereça-se uma surpresa culinária e social. Pergunte o caminho para o campo de futebol, que de facto é a continuação da estrada para a Régua. Aí encontrará o Centro da Juventude de Freixo de Numão, curioso lugar para um curioso restaurante.
Entre. Há um bar pouco hospitaleiro, uma sala vazia do lado direito e, a seguir a essa, uma outra sala com seis grandes mesas onde se podem acomodar mais ou menos cinquenta pessoas. Sente-se onde houver lugar. Ninguém lhe perguntará o que quer nem o que deseja comer, pois o menu é de prato único.
No momento em que se senta é-lhe posta defronte uma terrina de sopa. Sirva-se de quanto quiser. Na mesa há canecas de excelente vinho tinto, donde cada um bebe o que lhe apetece. As canecas do vinho e os cestinhos de pão são automaticamente renovados assim que se esvaziam. Mal acabou a sopa é-lhe posta defronte a salada e uma travessa com o prato do dia. Segue-se um cesto de fruta.
Terminada a refeição os hóspedes levantam-se – o lugar é para comer, não para conversas – e passa-se ao bar. Toma-se café e diz-se então para quantas pessoas se paga.
No dia 17 de Março de 2003 estava a sala cheia e almocei na companhia de oito silenciosos desconhecidos sentados à mesma mesa. Comi uma excelente canja, uma generosa costeleta de porco grelhada, com acompanhamento de batatas fritas, arroz e salada. Bebi uns três copos de vinho. Comi uma banana. No bar tomei dois cafés, e quando pedi a conta disseram-me que eram € 5,20.
Quem preferir um lugar mais tradicional, com a vantagem de mais escolha e bela paisagem, desce na direcção de Murça e continua até à estação de Freixo de Numão. Uma placa indica o caminho para o restaurante "Petiscaria Preguiça".
(in: Portugal, um guia para descobridores - inédito em português ) |